A pesquisa em tela consiste numa reflexão crítica em torno do desenvolvimento geográfico desigual capitalista em tempos de globalização neoliberal, e de seus impactos em diferentes territórios. A análise, articulando diferentes escalas geográficas, envolvendo a escala global, o Brasil, o estado do Rio de Janeiro, a Região Serrana e, por fim, o município de Petrópolis, denuncia um quadro que aponta para a barbárie urbana nesses diversos espaços.
Os autores, em total concordância com a linha de pesquisa do Fórum Itaboraí, propõem compreender esta realidade à luz da teoria urbana crítica - mais especificamente, através da incorporação da dimensão de classe, sem a qual não seria possível compreender a ação dos agentes. Em tempos de negação, via discurso hegemônico, dos conflitos e da luta de classes, este posicionamento epistemológico deve ser destacado.
A abordagem transescalar da presente pesquisa gerou cinco artigos. No primeiro, se examina o fenômeno das cidades contemporâneas dos países centrais em perspectiva histórica, e chama-se a atenção para três fatos: 1- o quanto as cidades capitalistas se afastaram dos ideais de seus fundadores; 2- o quanto elas assumiram uma segunda natureza com o advento do capitalismo, em forma e conteúdo; & 3- o quanto elas na atual contemporaneidade assumiram crescente feição de perversidade social, inclusive nos assinalados países centrais face à chamada globalização.
No segundo artigo, se examina o fenômeno cidades brasileiras em perspectiva histórica, como antes, buscando articular o trinômio Desenvolvimento, Espaço e Iniquidades Sociais; o que, além de somar para a crítica da formação social brasileira, visa mostrar o quanto a atual internacionalização do capital agrava as sociabilidades travadas nas referidas cidades - ainda mais se ao nível interno das políticas públicas domésticas ela é considerada dada. Cidades essas evidenciadas, cada vez mais, como lócus decisivos dos grandes conflitos da sociedade do capital.
O terceiro artigo examina o território fluminense, em suas regiões e municípios, procurando mostrar que a unidade federativa em exame, a do estado do Rio de Janeiro, vem experimentando, notadamente a partir de meados dos anos 1990, uma série de inovações, em alguns de seus espaços (como na baixada litorânea e no Médio Vale do Paraíba). Assinalados os principais fatores que explicam esses fatos novos, depois de quinze anos de degradação econômica e de uma secular megacefalia do seu município-sede e ex-capital federal (Rio de Janeiro), mostra-se também que ao lado deles, no âmbito social, são reiteradas antigas permanências – quando não tornadas ainda mais agudas, principalmente quando consideradas à luz dos muitos investimentos que vêm sendo realizados no estado. Mostra-se ainda, por fim, o quanto essas transformações, dentre outras manifestações, possuem nexos com as macro-mudanças operadas no capitalismo brasileiro e mundial.
No quarto artigo, se examina a região serrana fluminense, e seus municípios, mostrando-se que a o lado das importantes transformações discutidas no artigo precedente ( Artigo 3), essa região reitera sua condição de perdedora em termos econômicos. Ademais, pelo menos em parte, e por causa, o quão dramática são as chamadas condições de vida das suas maiorias populacionais. No referido artigo, lança-se à ideia, com comprovações estatísticas, que além das análises tradicionais que procuram associar as referidas condições de vida aos indicadores de renda, de escolaridade, etc. dever-se-ia considerar os de classe, posto que estes se mostram reveladores da ´assimetria´ social existente, por exemplo, entre empregadores e empregados, como expressa nos percentuais diminutos dos primeiros e amplamente majoritários dos segundos...
No quinto e último artigo, se examina o município serrano fluminense de Petrópolis, analisando uma série de construções discursivas, todas elas, segundo os autores, partícipes decisivas das lutas hegemônicas de obstaculização e práticas consoantes com as necessidades de um desenvolvimento mais dinâmico e socialmente equilibrado em seus domínios. É nessa perspectiva que uma série de indicadores econômicos e sociais é trazida à baila e, como nos dois artigos pregressos, sublinhando-se a tão fundamental quanto ignorada dimensão classial que, como antes, mostra não apenas sua centralidade como também importância em sociedades periféricas, patrimoniais e socialmente excludentes – que são os casos não apenas da petropolitana como da brasileira, da fluminense e da serrana, da qual ela faz parte...